Analiso as partículas do ser eu
Observo consternado o abuso que sou
Assombrado pelo conjunto de improbabilidades que me formam.
Não é que eu não aprecie a dicotomia da minha alma
Só não me agrada a ideia de um tom acinzentado
Formando-se entre o preto e branco.
Assusta-me o "Tudo-é-relativo"
Pois na verdade "Nem-tudo-o-é"
Assombra-me a forma como as pessoas
Vendem seus valores por valores tão baixos
E diante da rendição de quem meus olhos jamais diriam que se renderia
Temo pelo meu eu.
Numa época onde nem as moléculas estão livres da desfragmentação
Desfragmento-me em todos os pedaços
Analiso as partículas do que sou
E luto para manter inabaláveis os meus conceitos
Numa estação de banal relativização
Pois não posso me dar ao luxo de render-me como os demais
Afinal, alguém tem que sofrer as consequências de crer no que todos creram
Mas não foram fortes o suficiente para morrer (e quem sabe, viver) por isso.
Por Marvim Mota