O vento frio da
noite raspava em seu rosto, o trotar veloz do cavalo ritmava-se com seu coração
palpitante, sabia que essa estrada o levava ao momento de sua vida, a batalha
contra o ultimo dragão. Não era o único caçador de dragões, mas com certeza o mais
destemido.
Chegou a enorme
entrada da caverna onde a besta habitava. Deixou o cavalo à entrada e pôs-se em
direção ao confronto.
A caverna era fria
e escura, a luz da lua não adentrava no local, ele não contava com isso e temeu
um ataque furtivo da criatura em meio à escuridão, pensou em sair e retornar
com uma tocha. Neste momento uma rajada flamejante foi lançada da escuridão a
sua frente, instintivamente o cavaleiro ergueu o escudo, mas não foi necessário
usá-lo, pois o fogo passou distante de
si, atingindo um amontoado de madeira a sua direita criando uma fogueira.
As chamas
iluminaram o local, e assim ele avistou a criatura, o ultimo dragão. Era o
maior que já havia visto, estava a sua frente deitado de bruços mas com o
pescoço erguido, mostrando a imponência que só os dragões possuem:
- Presumo que veio matar-me. (Disse o Dragão em sua voz
grave e rouca, porém de alguma forma suave e mansa).
- Já estás morta criatura, só não sabes.
- Se tua espada for tão afiada quanto tua língua, de fato,
estou com problemas.
- Zombas de mim?!
O cavaleiro
preparou o golpe, mas a pergunta do Dragão o parou:
- Por que me odeia?
- És um Dragão, e perguntas por que te odeio? (questionou o
cavaleiro).
- Não escolhi ser o que sou.
- Mas escolhestes tuas ações, tu e os da tua raça queimais o
meu mundo para se alimentar das cinzas.
- Teu mundo?! Meus antepassados já desbravavam os céus
quando tua espécie se deliciava em chafurdar-se na lama.
- Se calculas pelo tempo verás que o mundo é das baratas,
calcule pela quantidade e admita que pertence aos homens.
- O domínio da tua raça te deu o direito de matar a minha?
- Não, as tuas ações me deram.
- Já me viu atacando? (perguntou o Dragão semicerrando os
olhos).
- Talvez.
- Garanto que se tivesse visto não te esquecerias.
- Vede, admites que atacou humanos. (gritou o cavaleiro
brandindo a espada).
- Não cavaleiro, admito apenas o instinto que habita em mim,
jamais pronunciei ataque a tua espécie.
O cavaleiro
percebeu que havia diferença. Sentiu algumas duvidas penetrarem seu coração.
Neste momento refez sua guarda gritando:
- Não penses que tuas palavras me impedirão de matar-te.
- Não desejo te impedir, por que desejaria?
Achou que seus
ouvidos o estavam enganando:
- Como?(perguntou o cavaleiro).
- Por que deveria eu resistir à morte?
- Não clamarás por tua vida?
- Onde está o sentido da minha vida? Se sigo meus instintos
e faço uso de minhas chamas, causo ira a tua espécie e estes me caçam... Meus
companheiros de raça foram mortos, já não há mais companhia ao mergulhar nas
nuvens... O céu já não me satisfaz, a noite é silenciosa, e os rastros das
minhas chamas são sinais para meus caçadores. Sou o ultimo da minha espécie e
não haverá outro após mim... Por que deveria resistir a minha morte?
O cavaleiro meditou
nas palavras do Dragão sentindo o pesar que havia nelas. Ao baixar a guarda o
Dragão moveu-se velozmente o tragando entre seus dentes e o devorou.
Cuspiu a espada e a
armadura numa pilha de ossos atrás de si, apagou a fogueira e recostou a cabeça
ao chão esperando que o próximo cavaleiro seja como os outros e use a língua ao
invés da espada.
Por Marvim Mota