quinta-feira, 26 de julho de 2012

Quero ser um “Duas Patas”




  Há muitos anos atrás em uma pacifica floresta, os animais viviam tranqüilos em seus lares, despreocupados com o que ocorria no mundo afora.
  Até que em uma pacata família de ratos, o ratinho mais novo espantou toda a família com a noticia:
-Eu já sei o que quero ser. Quero ser um “Duas Patas”.
  A mãe desmaiou, o pai teve um aumento de pressão e o irmão mais velho entalou-se com um pedaço de queijo. Depois que todos se acalmaram, resolveram conversar com o pequenino para tentar mudar sua idéia. Mas foi em vão, parecia que nada podia tirar aquele louco sonho de sua pequena cabeça.
  Resolveram levá-lo ao leão, o psicólogo. O ratinho ficou a sós com o doutor e este começou a sessão:
- A quanto tempo você tem essas visões?
- Que visões?
- Do Elefante rosa.
- Que Elefante rosa?!
- O meu Elefante rosa, ora essa. Ele é lindo, alto, forte, robusto, rosa, com aquela tromba enorme, fico até arrepiado...
- Doutor... estamos aqui pra resolver o meu problema não é? (falou o rato).
- Ah claro, claro. Mas, qual seu problema?
- Bem, eu quero ser um Duas patas.
  O Leão saltou de sua poltrona:
- Pela cutícula da Pantera! Garoto, por que quer isso?!
- É que acho que assim serei mais valorizado.
- Olha lindinho, isso já não é mais comigo ta?
  Chamou os pais do rato sonhador, e disse-lhes que deviam levá-lo ao rei, o porquinho-da-índia.
  Os pais marcaram hora, e no dia seguinte foram ao palácio. Ao chegarem, foram atendidos pelo próprio rei que quis ficar só com o rato. Já nos aposentos luxuoso, ele perguntou:
- Por que quer ser um duas patas?
- Acho que assim eu terei algum valor. (disse o ratinho)
- Olhe garoto, os duas patas são maus e muito complicados, nem eles se entendem, veja só, eles destroem o próprio mundo.  Além disso, não há problema algum em ser um roedor.
- Pra o senhor é fácil falar, é rei.
- Como assim? Acha que foi fácil chegar aqui? Eu vim do gueto guri... Sem contar esse nome que sempre me serviu de chacota... Eu não sou um porco... E eu não vim da Índia, que diabo de nome é esse que me deram? Mas, voltemos a falar de você... Qual problema em ser um rato?
- Os ratos são fracos.
- Fracos? Vocês assustam as mulheres dos Duas patas, até os elefantes temem vocês? Não sabia?
- Os elefantes?
- Bom, menos o elefante rosa, esse é meio esquisito então melhor não tentar.
- Mas e quanto aos gatos?
- Isso é um caso a parte, mas nada que uma amizade com um cão não resolva, só evite os pinches, esse costumam ter voz grossa, mas... Bom você deve ter visto algum, sabe do que to falando.
  Os olhos do pequeno radiaram com as possibilidades. O rei prosseguiu:
- Escute garoto, esqueça isso, siga a sua vida. Não a nada melhor do que ser você mesmo.

Por Marvim Mota

Übermensch




 No principio havia o homem e a mulher, eles viviam no Kansas e tinham a normal vida pacata de fazendeiros. Até o dia em que as estrelas caíram do céu, no fragmento das estrelas eles encontraram um bebê. Levados pela misericórdia e crendo ser um milagre o tomaram como filho.
  Com o passar dos anos não foi difícil perceber que não era humano: Nada o feria, sua força era inigualável, as chamas do sol saiam de seus olhos e o céu não era seu limite. Alem destas, outras características deixavam claro que o garoto não era um de nós, assim como ele mesmo percebeu.
  O homem e a mulher o ensinaram que devia agir como um humano, e evitar problemas. O garoto observou os humanos e assimilou a si aquilo que viu neles... Quando estava com os demais agia como um tolo, desengonçado, “míope”, com um penteado ridículo. Não compreendia a busca pelo dinheiro, assim como o emprego, mas eram hábitos terráqueos e quando chegou o momento ele escolheu o disfarce de jornalista. Pois os humanos sempre buscavam conhecer o mundo, mesmo não se conhecendo.
  Em seu trabalho de jornalista viu que a violência e o caos humano eram maiores do que imaginara. Eles destruíam-se de diversas maneiras... Ao mesmo tempo clamavam por alguém que os salvasse.
  Decidiu realizar uma parte da utopia humana. Precisava de um uniforme tão ridículo como suas fúteis motivações. Sim, um collant azul, uma capa vermelha, um par de botas e uma cueca vermelha por cima do collant apertado.  Era agora a infantilidade humana materializada.
  Voou cortando o céu, impediu assaltos, apagou incêndios, deteve assassinatos, finalizou seqüestros e foi noticia... O sol se pôs, depois de um tempo a lua também, esse foi o primeiro dia.
  Foi divertido por um tempo, sempre sorria quando o ovacionavam, era engraçado ver como eram bobos. Ouve músicas e galerias de arte em sua homenagem, virou moda usar cueca por cima da calça. E quando algo era excelente todos diziam que era “super”.
  Mas a brincadeira perdeu a graça, sempre soube que não resolveria as mazelas humanas... Mas começou a se importar, e sabia que lutar contra bandidos e incidentes naturais não resolveria. A brincadeira acabou.
  Queimou o uniforme, e trajou-se de calça social, terno e gravata. Pensou em pronunciar-se pela internet, mas mudou de idéia e voou até uma emissora de TV. Lembrou-se que os humanos não contestam a televisão.
  Em uma transmissão mundial afirmou:
- O mundo é meu.
  Em seguida iniciou o extermínio dos lideres mundiais. As forças armadas uniram-se para impedi-lo, inutilmente. As nações que antes tinham suas diferenças uniram-se para eliminá-lo. Mas seus exércitos não prevaleceram, pois armas são maquinas empunhadas por humanos e ele era um deus. E deus não morre.
  Vencida a guerra: Depôs os governos, unificou as nações, desfez o mundo de armamentos nucleares, destruiu o comercio (tudo é de todos), plantou no deserto, distribuiu alimento, acabou com a fome, matou os criminosos, acabou com a violência... Em tese, salvou o mundo.
  Mas por que há temor no coração dos homens? A paz reina. Por que as crianças choram quando o vento sopra? A fome acabou. Por que caminham olhando fixo para o chão? Por que há silencio nas ruas? Por que temem o céu?
  Contemplai humanidade, teu temor foi deposto e é a ti mesmo que temias. Vede pois a realização do teu delírio. Vede; eu anuncio-vos o Superman, é ele esse raio, é ele esse delírio.

Por Marvim Mota

A Carta




   Olá, faz um tempo que não nós falamos, eu vim por meio dessa carta tentar retomar isso. É provável que não reconheça mais a minha escrita, portanto vou me apresentar... Sou eu, o Espírito Santo.
   Ultimamente tenho lembrado o nosso primeiro encontro, não sei se você lembra, mas, eu nunca me esqueci: Você orava de olhos fechados, eu te olhei e achei aquilo tão lindo... Sua sinceridade, sua inocência. A medida que eu me aproximava, suas pernas tremiam, e quando eu te abracei, foi como uma explosão. Você não entendia direito o que estava acontecendo, mas, não queria que acabasse.
   Depois daquele dia você estava cheio, se pudesse evangelizava o mundo inteiro. Naquele tempo tivemos muitos momentos juntos, mas alguns realmente me emocionaram. Como daquela vez que você decidiu fazer uma apresentação pra mim. Estava tudo tão lindo, tão verdadeiro que eu não me contive em ficar só olhando e decidi participar com você. A minha presença afetou tanto você que quase não conseguia terminar a apresentação.
   Foram momentos realmente belos. Quando você cantava, quando você tocava, quando você dançava... Verbos no passado... Acredito que começou quando você assistia a aquele filme que continha umas coisas meio obscenas no meio. Eu sabia o que viria, então falei no seu ouvido:
- Por que não para pra ler a Bíblia?
   Você ouviu, pensou e escolheu o filme. No momento das cenas que eu mencionei você nem se preocupou em avançar, pensou:
- Que mal pode haver?
   E usou os olhos que eu santifiquei para apreciar o pecado e lembrar-se do mundo.
   Em outra vez, você estava com aqueles seus amigos que não são cristãos. Eu nunca vi mal nisso, até por que você fazia a diferença entre eles... Até aquele momento. Um deles havia comentado um caso engraçado que aconteceu. Logo em seguida outro disse que isso parecia uma piada, e logo elas vieram. A sessão de piada começou bem natural, algumas eram realmente bem engraçadas, mas logo ganharam certa vulgaridade, e depois se tornaram visivelmente imorais. Lembrei a você que não devia estar ali, mas você não queria sair, estava se divertindo. Então você abriu a boca e contou o caso mais sujo do que todos aqueles já mencionados. Todos riram, exceto eu. Foi demais pra mim, aqueles eram os lábios que me adoravam? Que cantavam louvores a mim?
   Com o tempo, você já não lia a palavra, reduziu a freqüência nos cultos e deixou de falar comigo.
   Mas ouve aquele culto, lembra? Eu tive liberdade para agir e estava tocando na maioria da congregação. Foi maravilhoso. E em meio a aquela agitação... Eu ouvi a sua voz, estava falando comigo, estava orando novamente! Você disse que estava triste, por que toda a igreja sentia minha presença, era tocada por mim e você não sentia nada. Você sentiu minha falta, você queria um abraço meu.
   Eu corri para abraçá-lo... Mas, não consegui. Você estava sujo, o odor do pecado estava impregnado em você. Eu queria, eu tentei, mas não pude.
   Esperei você chegar a sua casa pra conversar, mas você se deitou e dormiu. Tudo bem... Estava cansado, eu entendo. Esperei que você falasse comigo no dia seguinte, mas não teve tempo... Até que você se acostumou com a minha ausência.
   Então lhe enviei essa carta, eu sei que agora está com receio, mas não tenha medo, não é uma carta de repreensão, só quero que veja a historia do meu ponto de vista, quero que saiba o que senti... O que ainda sinto... Eu sinto saudade de você, sinto falta da sua alegria, sinto falta de sua voz cantando, sinto falta dos nossos momentos. Sinto falta da nossa amizade.
    Ainda estou esperando, e você sabe que estarei ouvindo caso queira me dizer algo agora.

Com amor... Seu amigo: Espírito Santo.

“Digitado por” Marvim Mota